segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Pobres devem ser castrados?

Não faz muito tempo um político brasileiro afirmou na tribuna da câmara dos deputados que pobres deveriam ser proibidos de procriar. Complementou sua proposta afirmando que pessoas em situação de vulnerabilidade fazem filhos para receber benefícios sociais do governo. Não são poucas (50 milhões?) as pessoas que demonstram concordar com ele.  

É de fato alarmante ver famílias com muitos filhos pequenos povoando os viadutos das grandes cidades brasileiras. A palavra alarmante deriva de “alarme”. E alarme existe para mostrar que algo está errado. 

Brasileiros voltaram à situação de mendicância porque perderam o emprego, o meio de vida, a renda para comer e pagar o aluguel, e por consequência, a dignidade. É alarmante, mas é inegável, que o aumento da miséria seja um mecanismo do capitalismo. Quanto menor a oferta de oportunidades mais ameaçados ficam os trabalhadores. Aceitam qualquer coisa. As piores formas de ocupação, com salário de fome e sem quaisquer direitos trabalhistas.

 

Os pedintes nas calçadas lembram aos operários que devem fazer de tudo para manter o pouco que tem. “O mendigo amanhã poderá ser você”. 

Ouço 50 milhões de contra-argumentos “isso não é verdade, pedem esmolas porque não querem trabalhar”. 


Isso também seria alarmante, se fosse verdade. 


Quem pede esmolas tem uma existência miserável. É alguém que não tem nada. Nem mesmo a liberdade de usufruir de qualquer coisa, pois é pedinte e se algo tiver nada lhe dão. 

É uma denúncia contra o capitalismo reconhecer que é melhor ser pedinte do que trabalhar por um salário-mínimo.  


Ter o compromisso de deslocar-se à empresa do patrão o mês inteiro, dedicar-lhe as melhores horas do dia, os melhores anos da sua vida, vê-lo enriquecer e ostentar, enquanto você não tem nada.  


Não pode comprar um brinquedo para o seu filho, não pode pagar um curso, comprar um livro, fazer um passeio. Na verdade, nem pode ter filhos. Pois tem que dedicar todo o seu tempo ao trabalho, para que o patrão possa ter muito tempo e muito dinheiro para os filhos dele. 


Se acreditamos que alguém abre mão de sua dignidade trocando um emprego pela mendicância e pelos benefícios sociais admitamos que o salário-mínimo no Brasil é igualmente indigno.  


É indigno um trabalhador empregado ser despejado ou ter sua água e luz cortada porque o salário é insuficiente. É indigno um assalariado voltar a usar lenha pra cozinhar. 


A miséria é alarmante. 

Alarmemo-nos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bancária vítima das enchentes em São Paulo paga 144 reais por água e dois biscoitos

O lucro acima de tudo em um momento de tragédia   É a pr ova irrefutável de que o capitalismo é a pior invenção de todos os tempos. Eventos...