“Não, de jeito nenhum, Deus me livre”. Essa talvez seja a resposta unânime à pergunta.
Mas a gente pode nem ter mais vida e nem percebeu.
A vida física é um fragmento muito pequeno para quem acredita na vida eterna ou em outras vidas. Pessoas que tem a espiritualidade bem desenvolvida, sejam religiosas ou não, tendem a crer que essa vida passa num piscar de olhos e que existe vida depois dessa. E que essa existência física determina, ou pelo menos contribui, para o nosso “encaixe” no próximo sistema de coisas.
Mas a pergunta sobre perder a vida é interessante independentemente da existência de uma vida futura.
Nós não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias. Ao dia de hoje, por exemplo. E a todos os dias.
Significa saborear cada minuto em vez de apenas engolir. Mastigar até achar o verdadeiro sabor. E repartir com outros alguns desses momentos. Isso também ajuda a educar o paladar para entender o gosto das horas e dos dias. E enfim encontrar o gosto da vida. O gosto pela vida.
Nada nasce em uma década, em anos, em meses. Tudo surge segundo a segundo, aos poucos. E o conjunto de todos os instantes é a vida.
Perdemos a vida quando deixamos de apreciar a beleza dos instantes e queremos tudo pronto e acabado. Nem sempre tendo feito a nossa parte.
Deixamos de melhor viver quando não percebemos o progresso, degrau a degrau, de cada coisa. Não enxergamos a nossa melhora e a dos outros.
Perdemos tempo e energia quando comparamos alguns fatos da vida dos outros com os fatos da nossa vida. E julgamos que são felizes e nós não. Pensam geralmente o mesmo de nós.
Encaremos a realidade de que a vida que os outros tem não serve pra gente. Talvez não sirva nem pra eles. O desenvolvimento real de uma sociedade acontece quando todos tem condições de vida digna. O resto é escolha de cada um.
A música “Tocando em Frente" de Almir Sater e Renato Teixeira resume tudo isso: “Cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz”.